Drucker afirma, em seu livro Novas Realidades, que estamos vivendo numa Segunda Renascença. Vou aqui refletir um pouco sobre essa interessante idéia de um dos mais criativos pensadores deste final de século XX.
A primeira Renascença revolucionou a educação -- e, através da educação, revolucionou o mundo. E a força motriz da primeira Renascença foi uma tecnologia educacional, o livro impresso, tornado possível pela imprensa de tipo móvel inventada por Guttenberg em 1450.
Antes da Renascença, a maioria das pessoas era analfabeta, até mesmo grande parte da classe dirigente. A leitura e a escrita eram em geral dominadas apenas pelos intelectuais, que, na Europa, eram quase todos religiosos. Havia uma razão muito básica para esse analfabetismo generalizado na Idade Média: não havia o que ler. Livros, embora existissem antes da invenção da imprensa, eram poucos, pois tinham que ser copiados a mão, e, dado o clima intelectual da época, ficavam trancafiados em bibliotecas de mosteiros (vide O Nome da Rosa).
O livro impresso, relativamente fácil de produzir, mudou tudo isso. Em pouco tempo o livro se tornou popular. Depois da Bíblia, primeiro livro impresso (em Latim, naturalmente) por Guttenberg, vieram outros: tratados religiosos, ensaios filosóficos, e, em seguida, a ficção. (Não é por acaso que a literatura da maioria dos povos, inclusive dos que falam português, tem sua origem nesse período).
Mas o livro também tornou possível, pela primeira vez, o ensino a distância e o auto-aprendizado. Antes de existirem livros em grande quantidade, se alguém quisesse aprender algo, tinha que achar alguém que o soubesse e se locomover até ele, para que ele lho ensinasse. Se quisesse aprender Teologia, tinha que ir até Paris, para que Tomás de Aquino lhe ensinasse teologia… Com o livro, as pessoas passaram a poder aprender com outras pessoas, distantes no espaço -- e no tempo. Depois do livro, não houve mais necessidade de que as pessoas aprendessem apenas quando quem ensinasse estivesse presente e disposto a ensiná-las: elas passaram a poder aprender por sí próprias, com o auxílio de uma boa biblioteca. (E tem gente que pensa que ensino a distância requer satélites, antenas parabólicas, etc….).
Hoje os livros fazem de tal forma parte de nossa educação que são saberíamos ensinar e aprender sem eles.
Mas o livro mudou não só a educação. Sem a imprensa provavelmente não teria havido a eclosão da Reforma Protestante, o surgimento da Ciência Moderna, o fortalecimento das diferentes línguas, e, conseqüentemente, o florescimento das culturas regionais e nacionais e o aparecimento dos Estados modernos.
A Segunda Renascença em que fala Drucker tem sua força motriz em outra tecnologia educacional: o computador. O computador, que nasceu como tecnologia bélica, e se popularizou como tecnologia industrial e comercial, é hoje, eminentemente, meio de comunicação e tecnologia educacional.
O computador se tornou meio de comunicação ao se infiltrar, subversivamente, nos meios de comunicação tradicionais, provocando a digitalização dos conteúdos por eles veiculados. Digitalizaram-se os meios de comunicação impressos: hoje livros, revistas, e jornais estão disponíveis na Internet, e, não importando onde estejam fisicamente armazenados, é possível aceder a eles instantaneamente de virtualmente qualquer parte do planeta. O som se digitalizou, e a popularização do som digital disponível em CDs e a universalização da Internet estão fazendo das rádios tradicionais emissoras globais. A fotografia digital já está aqui, e o vídeo-fone e a televisão digital estão às portas. Nos países mais avançados já se trocam mais mensagens eletrônicas do que cartas pelo correio convencional. Até a telefonia tradicional está ameaçada pelo "Internet Phone". É a revolução nos meios de comunicação. Cinco anos atrás ninguém sabia o que era multimídia: hoje todo mundo sabe que multimídia tem que ver com a comunicação, mesmo à distância, usando textos, gráficos, desenhos, sons, imagens estáticas e dinâmicas, tudo isso num ambiente de interatividade.
Essa revolução certamente não vai deixar de afetar a nossa educação, pois vai alterar drasticamente as maneiras em que aprendemos -- fora e dentro da escola. O mestre e a escola estão se virtualizando e a educação a distância vai ser a regra, não a exceção.
É por isso que cerca de 70% das pessoas que compram um microcomputador para uso doméstico o fazem pensando na educação dos filhos. Mesmo que não tenham uma idéia muito clara de como isso se dará, os pais estão convictos de que o computador é, hoje, a mais importante tecnologia educacional de que podem lançar mão, porque engloba todas as outras.
E o computador está revolucionando não só as maneiras em que aprendemos, mas as formas em que trabalhamos, o modo em que nos comunicamos uns com os outros, e até o jeito em que nos divertimos. A revolução que o computador está causando em nossa vida será muito mais ampla e profunda do que aquela que o livro provocou.
Vai levar algum tempo até que as escolas assimilem o computador às suas rotinas de sala de aula. Levou séculos para que o livro se tornasse tão popular a ponto de toda escola ter sua biblioteca e de um clássico ser vendido em banca de jornal por cerca de dois reais, tornando o acesso à informação impressa virtualmente universal. Vai levar muito menos tempo para o computador se tornar um eletrodoméstico tão ubíqüito quanto o rádio ou o televisor e para a informação multimídia estar "na ponta de nossos dedos", como há anos vem preconizando Bill Gates -- CD-ROMs, que custavam centenas de dólares há três ou quatro anos, hoje já são distribuídos gratuitamente, como brindes, em bancas de jornais. O problema é que o rádio e o televisor, embora onipresentes, foram mantidos em grande parte fora da sala de aula. Não podemos permitir que o mesmo se dê com o computador. O preço será a obsoletização da escola, como instituição pedagógica, e sua eventual transmutação em instituição de mera guarda de menores. Se isso se der, a expressão "Microsoft University" deixará de ser mera metáfora.
Mas o caminho do computador para a sala de aula passa pela familiarização do professor com ele (os alunos, nessa questão, o mais das vezes tomam conta de si mesmos). Para o professor se familiarizar com o computador ele precisa usá-lo nas mais variadas atividades, mesmo que elas não sejam de especial significado pedagógico nem voltadas para a sala de aula. Quando os professores tiverem com o computador a intimidade que hoje têm com o livro, descobrirão ou inventarão maneiras de inseri-lo em suas rotinas de sala de aula, encontrarão formas de criar, em torno do computador, ambientes ricos em possibilidades de aprendizagem que propiciarão aos alunos uma educação que os motivará tanto quanto hoje o fazem os jogos computadorizados, os desenhos animados, os filmes de ação, e a música estridente do rock.
Pensando na possibilidade de incluir os alunos no mundo tecnológico, que os professores estão fazendo o uso do LIED na escola, com isso proporcionando aos alunos uma aprendizagem contextualizada e mais dinâmica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário