quinta-feira, 28 de abril de 2011

     III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária
Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005
TEMA GERADOR E PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: UMA ABORDAGEM SÓCIOHISTÓRICA


Maria Inêz Cescon- ECORM de Japira Jaguaré-ES
Eliene Cássia Santos Pretti- ECORM de Japira Jaguaré-ES
Flavio Moreira – FANORTE
fm_moreira@terra.com.br

Apresentação

     Este trabalho propôs refletir sobre o Tema Gerador (TG) em Paulo Freire e na Pedagogia da Alternância (PA) tendo em vista que essa pedagogia é pioneira no Brasil na utilização dos Temas Geradores na organização do trabalho pedagógico tanto na escolarização de 5ª a 8 ª séries quanto no ensino médio no Brasil.
     Para Freire (1980), a tematização da realidade é a base para uma educação crítica, dialógica, que propõe ações coletivas como fomentadoras das mudanças sociais, econômicas e políticas do meio, a partir dessa tematização teoria e prática não se separam pois se busca uma formação integral, humana e politicamente compromissada com os excluídos. Assim, a tematização não é um apriori, pronto e acabado, é o resultado de uma pesquisa participativa realizada por agentes da educação.
     No que se refere à Pedagogia da Alternância, praticada inicialmente pelas Escolas Famílias Agrícolas do MEPES1, ela tem como princípio básico o desenvolvimento de uma ação educativa integrada e reflexiva entre pais, alunos e comunidades do meio rural onde atua. Alternando teoria e prática, por meio de instrumentos pedagógicos próprios, entre eles o Tema Gerador, vem construindo cotidianamente seu método de ensino/aprendizagem ao longo de mais de trinta anos no Brasil. As Escolas Famílias Agrícolas começaram a funcionar aqui no Espírito Santo no ano de 1969, mas a história do surgimento dessa experiência de educação para o meio rural tem sua origem no contexto sociocultural francês da década de 30. Nos últimos anos, vêm sendo genericamente denominadas de Centros Educativos em Alternância as experiências que utilizam a Pedagogia da Alternância.
     Quanto ao surgimento das Escolas Comunitárias Rurais Municipais de Jaguaré (região norte do Espírito Santo), que também utiliza a Pedagogia da Alternância, vale ressaltar que já existia aqui uma Escola Família Agrícola do MEPES desde o ano de 1972 que atendia a população residente no campo de 5ª a 8ª . As Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo, surgiram no Brasil a partir do final da década de 60, do século XX, no município de Anchieta-ES, e de lá pra cá se espalharam por todo o Brasil. A este respeito ver Queiroz (1997, 2004), Moreira (2000), Alves (2004).
     III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 séries, porém no início da década de 90, após muita luta dos agricultores e lideranças locais, fez-se um pacto de transformar a EFA do MEPES em escola de Ensino médio profissionalizante (também nos moldes da Pedagogia da Alternância) e foram criadas as Escolas Comunitárias Rurais para oatendimento em comunidades rurais de ensino de 5ª a 8 ª que não desvinculasse os alunos (as) do campo, e mais ainda, propondo com um modelo alternativo que fosse contrário ao modelo neoliberal e capitalista emergente, de forma que as escolas fossem disseminadoras de resistência a essas políticas de exclusão do homem do campo.
     Assim, considerando que as idéias de Paulo Freire são convergentes com a prática da Pedagogia da Alternância é que se propôs a partir de estudos bibliográficos, documentais e entrevistas, uma análise dos Temas Geradores existentes e a pertinência de alguns deles nas ECORMs, tendo em vista que estão ocorrendo mudanças significativas nos aspectos sócio-econômicos e político-culturais do meio rural.
     Objetivou-se com este trabalho, de modo geral: conhecer e avaliar a origem sócio-histórica dos TGs na PA desenvolvida nas ECORMs, e, como objetivos específicos, procurou-se: a) verificar se os TGs  existentes na PA são relevantes de serem pesquisados mediante uma análise comparativa de TG em Paulo Freire e TG na PA, b) identificar se os TGs estão proporcionando mudanças na vida familiar dos moradores das comunidades do raio de ação da ECORM de japira.
     Para obter os dados que subsidiaram esta pesquisa, utilizou-se a pesquisa quantitativa e qualitativa. Da pesquisa quantitativa levantaram-se dados a partir de questionários enviados às famílias, alunos, ex alunos, conselheiros e monitores, pois necessitou-se de dados objetivos e, após a sua sistematização, nos ajudou a analisar alguns aspectos dos Temas Geradores com as pessoas envolvidas de forma direta ou indireta no processo educativo da PA.
     Usou-se da pesquisa qualitativa por meio de entrevistas semi-estruturadas com pessoas que estudam o Tema Gerador em Paulo Freire e na PA, esse último com relatos de experiência prática, tendo em vista a necessidade de conhecer de forma mais abrangente esseinstrumento pedagógico, sua origem e aplicabilidade nas ECORMs e EFAs.
     A pesquisa qualitativa de acordo com Menga e Ludke (1986), usada para fundamentar o presente estudo, tem algumas características da pesquisa qualitativa do tipo etnográfica, percebeu-se isso na forma de
obter os dados, a partir do levantamento histórico-documental; do material produzido pelos informantes, transcrição das entrevistas e pelas citações retiradas dos documentos. De acordo com (Menga; Ludke, 1986, p.12).
     Os alunos foram pesquisados por amostragem de estudantes de 7ª e 8ª séries. Essa escolha justificou-se em função da maior vivência deles em relação ao estudo dos Temas Geradores. A ECORM de Japira fica III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 localizada a 8 km da sede do município de Jaguaré e que tem no seu corpo discente 102 estudantes, desse número, pesquisou-se 25 alunos das séries citadas acima o que representa (40%), dos alunos que cursavam a 7ª e a 8ª séries. Para se obter os dados das famílias (87 no total da Escola Comunitária Rural Municipal de Japira no ano de 2004) selecionou-se 40% que representam aproximadamente 23 famílias das comunidades que têm representatividade legal na escola, de acordo com o Regimento Comum das Escolas Comunitárias Rurais do município. Essas famílias foram escolhidas de acordo com os objetivos do presente estudo. Para detectar se os Temas Geradores provocaram mudanças e se as temáticas ainda estão condizentes com a realidade das mesmas foram selecionadas as famílias com maior tempo de conhecimento da PA, pois puderam expressar com maior segurança as idéias sobre a problemática apresentada. Para a coleta dos dados com os agricultores que compõem o conselho Administrativo da Escola, trabalhou-se com a totalidade de 100% dessa categoria, com o objetivo de detectar se os TGs estão contribuindo com a vida familiar e comunitária das famílias com filhos na ECORM de Japira, sendo 07 (77.7%) com filhos na escola, 01(11.1%) representante de ex-alunos e 01 (11.1%) que não tem filho na escola.
     Para verificar se os Temas Geradores existentes hoje ainda são pertinentes nas comunidades onde as ECORMs estão localizadas aplicou-se 2 questionários a monitores de cada um dos Centros Educativos Familiares de Formação em Alternância (CEFFAs): São João Bosco, Giral, Japira e XIII de Setembro, pois esse número representa 40% dessa categoria.
    Para perceber se os Temas Geradores proporcionaram mudanças na vida familiar e comunitária pesquisou-se 20 famílias de ex-alunos do raio de ação da ECORM Japira, esse total representa 40% das famílias a partir de 1999, pois se acredita que nesse período já foi possível perceber ou não mudanças em relação à abordagem desses temas.
      Com o objetivo de conhecer os fundamentos sócio-históricos e político-pedagógico dos Temas Geradores na Pedagogia da Alternância e em Paulo Freire foram entrevistados: uma professora/pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Marlene Carraro Pirez, estudiosa desse autor; 01 monitor da EFA de Campinhos- Iconha ES, professor Sérgio Zamberlan, precursor da PA no Espírito Santo; 01 monitor da EFA do Bley- São Gabriel da Palha-ES, Magides Brito Sampaio, e 01 da EFA do Km 41-São Mateus-Es, Francisco José de Sousa Rodrigues, esses últimos enfocando o surgimento das primeiras Escolas em Alternância no município de Jaguaré.
     O contexto sócio-histórico da Pedagogia da Alternância e surgimento dos temas geradores Atualmente, as ECORMs estão organizadas didaticamente com instrumentos metodológicos que partem dos Temas Geradores com objetivo de promover análises reflexivas sobre a realidade para construção coletiva do Plano de Curso Orgânico de cada tema abordado. Neste sentido, para que se garantam os III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 princípios de análise crítica da realidade é necessário haver formação permanente para todos os envolvidos no processo, famílias, alunos e monitores, pois as discussões colaboram na compreensão dos problemas vivenciados e na mudança de atitude dos mesmos. Pretendeu-se também promover uma discussão reflexiva com monitores, alunos, famílias e comunidades sobre esse assunto, pois os TGs são de grande importância se estiverem intimamente relacionados ao meio e sendo discutidos de forma a analisar a realidade com o objetivo de transformá-la.
     De acordo com Moreira (2000) a primeira experiência educacional em alternância emergiu na França em 1935, Maisons Familiales, a partir das idéias do Padre Abbé Granerau que reuniu-se com agricultores de Serignac Peboudou, província de Lauzuan, iniciou discussões acerca de uma educação que não incentivasse ao êxodo rural, que valorizasse a identidade dos camponeses e não desvinculasse o jovem seu meio. Nessa época, havia grande incentivo à criação de novas cidades e, portanto, ao êxodorural, o conceito que se tinha de rural era como “fornecedores” de subsídios para o meio urbano, nesse cenário estava explícita a necessidade de difundir uma educação que buscasse resgatar a identidade sócio-cultural do camponês tendo em vista redimensionar o campo na perspectiva da modernidade.
     Essa perspectiva é reafirmada por Silva (2000), veja: “A Alternância surgiu como o meio de unificar momentos binários para tentar explicá-la, sejam eles escola e trabalho, teoria e prática, formação e emprego, escolarização e formação criados pela ciência moderna”. Por isso, pode-se entender a Alternância como uma interação entre diferentes modelos de atividades em que teoria e prática são indissociáveis à construção de conhecimentos humanos, sociais, práticos, religiosos, dentre outros necessários à formação integral dos jovens”.
     A pedagogia da Alternância, em sua práxis pretende-se uma educação libertadora. Isso ocorre, entre outro momentos, quando o instrumento “diálogo” é intencionalmente utilizado para a construção de novos conhecimentos, de uma nova realidade em que os educadores não são os detentores do saber, nele há um processo de investigação continuada compartilhando com o educando. Os Temas Geradores são o elo para a prática desse diálogo; são eles que irão conduzir de forma emancipatória o processo de construção de conhecimento dos educandos e das educandas, uma vez que é por meio dos temas que inicia-se, a investigação da realidade e a ela retorna na busca da superação de situações de opressão.
     Na década de 60 no Brasil foi marcada por uma grande influência militar; ora os intelectuais defendiam os interesses populares e não eram aceitos pela classe dominante e, consequentemente, eram depostos e exilados; ora defendiam os interesses burgueses e massacravam as classes populares. Paulo Freire, nesse contexto, optou por estar do lado dos “oprimidos” estudando “formas” para uma “pedagogia de libertação e da esperança. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária
Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 Nesse período , a educação brasileira era extremamente elitista, conservadora e fomentadora de valores herdados da época colonial. Essa foi uma época de efervescência de movimentos culturais e sociais e, por isso, um momento de grande perseguição para as organizações sociais, principalmente as voltadas para o campesinato e para estudantes.
     Em 1962, iniciou no Nordeste um movimento de alfabetização de adultos, em que se discutia temas globais sem a alienação dominante, uma educação voltada para o povo oprimido em que o homem era considerado “ser”, politizado e crítico. A preocupação de Freire era não ensinar só conteúdo, mas lavar  aqueles educandos a superarem a falta de consciência democrática, o que chamava de educação das palavras, pois segundo ele a criticidade é indispensável para democratização.
     Sua proposta era difundir uma educação que não reproduzisse a ideologia autoritária e dominante. Ele trabalhava com Temas Geradores que são situações de desafio apresentados ao grupo sobre a realidade em que estão inseridos; geralmente é a análise de problemas nacionais ou regionais e, a partir desses temas , eram selecionadas as “palavras geradoras”, sempre levando em consideração o nível maior de compromisso social, cultural e político dessas palavras visando sempre às mudanças. Para ele: procurar um Tema Gerador é procurar o pensamento do homem sobre a realidade e sua ação sobre essa realidade que está em sua práxis. Na medida em que o homem tomam uma atitude ativa na exploração de suas temáticas, nessa medida sua consciência crítica da realidade se aprofunda e anuncia essas temáticas da realidade”.(1980, p. 32).
     É exatamente essa idéia de tema gerador que se pratica na Pedagogia da Alternância, conforme explicitamos adiante. Historicamente esse instrumento chamado Planos de Estudo, definidos pelas ECORM’s como Ficha de Pesquisa, surgiu em 1955, na França, entretanto não havia Temas Geradores, os alunos pesquisavam com sua família e comunidade e escreviam um relatório sobre problemática, curiosidades e experiências nas propriedades, a finalidade era levar o aluno a descobrir a sua própria realidade. No decorrer dos anos, essas ações foram repensadas e adaptadas a novos métodos para expressar cada vez mais a cultura e os costumes das famílias. Foi concebido como uma tomada de consciência da situação e como primeira tentativa para mudança; desde do início, foi pensado para relacionar os aspectos políticos, religiosos e sociais. Assim, Chapentier, (1975), argumenta que de acordo com as necessidades os Planos de Estudo sofreram adaptações conforme o local onde começaram a ser aplicados. Na África foi implementado, inicialmente de forma oral e com nível político acentuado, na Argentina, os conteúdos foram adaptados à realidade daquela clientela.
     Dessa forma, quando as EFA’s começaram a funcionar, havia os Planos de Estudos que eram únicos para todas as escolas. Os Temas Geradores desses PÉS foram escolhidos a partir das idéias das III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 palavras Geradoras de Freire tendo em vista a experiência significativa desse educador, que partia da realidade das comunidades do Nordeste brasileiro. Porém sua origem não foi ainda devidamente pesquisada.
     Em 1975, começou-se a discutir nas escolas a função dos Temas Geradores, pois percebia-se que por serem comuns a todos os CEFFAs precisavam ser refletidos, o casal Charpentier auxiliou nas discussões em um grande seminário sobre o método do Plano de Estudo, realizado em 1977, em Anchieta, nele chegou-se à conclusão de que as escolas em alternância não poderiam existir sem esse instrumento, entretanto era necessário garantir a individualidade das unidades, a partir de então, com a assessoria da APEFA (instituição Argentina) foram levantados os primeiros Planos de Estudo, por meio de uma pesquisa participativa; na época não eram chamados Temas Geradores eram nomeados Temas de Estudo. Contudo, sabe-se que a idéia de Tema Geradores foi sem dúvida inspirada na Pedagogia de Freire, conforme afirma Zamberlam.
     Assim, as Escolas Comunitárias de Jaguaré, incorporaram os temas geradores já existentes nas EFA’s de 1ª grau do Espírito Santo. Esses, por sua vez foram escolhidos a partir de uma pesquisa participativa na época da implantação. Então, como a FP é imprescindível à prática da PA, estabelecer a ligação entre escola e família, entre as experiências transmitidas pelas famílias dos alunos e as suas próprias descobertas ela precisa ser constantemente refletida.
     Logo as Fichas de Pesquisas precisam abordar assuntos relacionados coma vida dos educandos, devem possuir uma relação imediata com as dificuldades e problemas detectados oferecendo meios para que o mesmo possa interferir na sua realidade, isso ocorre por meio das intervenções realizadas de cada tema estudado.

DESCREVENDO E ANALISANDO OS DADOS DA PESQUISA E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS

     Nesta pesquisa lançamos mão dos conceitos de Temas Geradores (TG) de diversos sujeitos envolvidos na alternância e no estudo dos mesmos a partir de Paulo Freire, buscando defini-los e relacioná-los à prática da alternância.
     Como este conceito é crucial ao nosso estudo perguntamos a todos os sujeitos sobre esse assunto. Buscaremos aqui delinear a compreensão que cada um tem sobre este tema, bem como pontuar as diferentes concepções existentes apontando, ao nosso ver, a concepção que mais se aproxima à práxis vivenciada nas ECORMs. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 Na concepção de 77.5% dos pesquisados, nas diversas categorias, TG é um assunto relacionado à vida dos alunos e das famílias que merece ser aprofundado visando à mudança do meio e contribuindo para a formação crítica do educando. Para as famílias é parte de um instrumento pedagógico próprio da Pedagogia da Alternância.
     Dessa forma, o conceito definido pelas famílias, de que TG é um assunto relacionado à vida dos alunos e das famílias, converge com as idéias expostas por Zamberlan2 que conceitua Tema Gerador como sendo que “a estruturação de formação onde não se tratam mais de fenômenos e nem de fatos, onde você estuda os fenômenos da vida e de todas as relações que ela tem, sejam eles físicos, antropológicos ou biológicos, porque é uma forma de você encarar a realidade com toda a complexidade que ela tem.” Também conceituando TG, outro entrevistado afirma que: “Tema gerador são aquelas situações da realidade vivenciada que interessa os parceiros da formação, os estudantes, a família e o agricultor. São situações que devem interessar a esses parceiros, não podemos dirigir o TG no interesse do monitor, ou só da família ou só do aluno, o TG tem que alcançar o interesse desses três parceiros” (Brito, 2004).
     Na pesquisa realizada com as famílias conseguimos identificar também os dois conceitos acima citados,
conforme quadro abaixo:

CONCEITO                                                                   CATEGORIA                                      %
  É um assunto relacionado à vida dos alunos e das               Monitores                                      88.8
famílias que merece ser aprofundado visando à                   Conselho administrativo                  100
 mudança do meio, contribuindo para a formação
crítica do educando.                                                            Alunos da 8ª série                           75
                                                                                        Famílias de ex-alunos                       66.6
                                                                                         Famílias de alunos                           96.2
     
É parte de um instrumento pedagógico próprio da                Monitores                                    11.1              
Pedagogia da Alternância.                                                  Alunos da 8ª série                         12.5 
                                                                                       Famílias de ex-alunos                        25
                                                                                         Famílias                                         19.2
         
     Em relação a quais temas são importantes, entre os estudados, as famílias de alunos e alunos de 8ªsérie quando questionadas disseram que os tema “FAMÍLIA” 72.5%)e “SAÚDE” (58.7%) são muito importantes uma vez que estão ligados diretamente ao dia-a-dia dos envolvidos no processo educacional das ECORMs e têm significância para suas vidas. Assim pôde-se ratificar o que expôs Zamberlan citando Freire em relação a esse tópico: III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 A melhor aprendizagem é onde meus pés estão [...]. Os problemas devem ser os primeiros a serem estudados, não para ficar neles, não para ficar constantemente, porque a vida não é só problema, os problemas cotidianos, mas eles são aqueles que nos atingem primeiro? O que atinge primeiro a garotada? Aquilo que os torna curiosos, aquilo que os interessa mais é o aqui e agora, se não fica a história, a realidade em que eles vivem é muito pequena, por isso que o incentivo deve ser a escola.
    Ao responderem sobre as possíveis contribuições dos temas geradores, 98.4% de todas os sujeitos entrevistadas responderam sim.
     No que se refere às contribuições dos temas geradores no cotidiano das famílias e comunidades duas contribuições ficaram muito evidentes, conforme quadro abaixo:

CONTRIBUIÇÕES                                                                                        PORCENTAGEM
Melhorou o diálogo entre os alunos e suas famílias                                                       76.5%
Ajudou a perceber os males que os agrotóxicos causam à saúde e a natureza               59.3%

     Em relação a este tópico, percebeu-se que das contribuições expostas para serem assinaladas pelos pesquisados, as relacionadas ao cotidiano familiar e comunitário foram referentes ao diálogo familiar e ao uso de agrotóxicos, isso converge com o que diz o professor Brito (2004):“ Porque os temas, como na realidade, passam por situações que motivam, que interessam aos parceiros, automaticamente eles provocam o sentido para a realidade, onde se está vivendo, e desafia a gente a entrar na realidade, faz querer buscar respostas, soluções.”
     Brito ainda acrescenta que: “Na realidade o TG coloca a situação em movimento na nossa consciência e, por isso, ele gera todos os efeitos no campo de formação das pessoas, que é no campo da responsabilidade, da consciência, da realidade, do senso crítico, da análise, do compromisso, do envolvimento, coloca a pessoa em desafio e parece que esses elementos são coisas essenciais na formação de uma pessoa, sem contar ainda que desperta a capacidade de auto-estudo, de ser pesquisador, desenvolve o método de pensar” .
     Por meio da pesquisa percebeu-se que quando se pediu sugestões de novos temas que possivelmente poderiam ser trabalhados novamente ficou constatado que 66.6% das pessoas sugeriram TGs que não são trabalhados pela PA: culturas, avanços tecnológicos, economia doméstica, sementes, artesanato, violência,formação de pequenas e grandes empresas, culturas diversificadas, alcoolismo, drogas, respeito, convívio em grupo, educação sexual, diálogo, agrotóxicos, meio ambiente e política. Percebeuse que essas temáticas estão ligadas à realidade das famílias. Além disso, 33.4% ratificaram a III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 importância de continuar abordando os TGs já existentes: família, clima, energia, animais de pequeno e médio porte, organizações sociais, indústria, reprodução, culturas perenes e alimentação.
     Sobre a necessidade de estar revendo e redefinindo os TGs, Marlene Pirez, fala em entrevista (junho 2004): “ Dentre outras questões, que da forma como as ECORMs estão trabalhando contraria radicalmente Paulo Freire, porque ele diz que os TGs têm que ser definidos junto ao sujeito, num processo de diálogo intenso, num processo investigativo, ele fala de uma pesquisa que teria que fazer, caminhando, ficando com eles, vendo suas festas, ouvindo os alunos, não só ouvindo, mas problematizando o que você ouviu”.
     Sobre a necessidade de mudanças dos Temas Geradores, Marlene Pires também cita: “Teria que todos os professores estarem envolvidos nisso (investigação temática), teria que ter uma coordenação pedagógica, vocês professores teriam que estar participando de um seminário de um ou dois dias para vocês trazerem tudo que vocês ouviram, sentiram e perceberem desse universo das famílias, aí juntos irão definir os temas geradores... vocês poderiam definir por 3 ou 4 anos, mas eu entendo que teria que haver sim, pelo menos uma vez por ano, tem que ter uma pequena atualização, e talvez de dois em dois anos teria que ter uma maior investigação havendo famílias, alunos, comunidades, lideranças comunitárias e os próprios professores.”
     Em relação à necessidade de rever os TGs, os monitores Francisco e Magides defendem que os TGs não precisam mudar, o que precisa ser revisto é a forma como os monitores estão os conduzindo. Sobre isso disseram na entrevista em agosto 2004: “Os TGs têm um significado maior na vida, que é constante, que muda a necessidade de verificar, observar, são situações que estão dentro dessas situações maiores, por isso, é importante que, para cada tema tenha-se claro o enfoque, pois é ele que irá subsidiar o objetivo do tema, dar sentido, o direcionamento, os limites, o campo de abrangência, é preciso garantir esse enfoque no momento da tematização” .

CONSIDERAÇÕES GERAIS

     Baseando-se em conhecimentos teóricos e entrevistas a estudiosos, verificou-se neste trabalho que tema gerador é um instrumento essencial à Pedagogia da Alternância por estar intrinsecamente ligado à sua práxis. A problemática analisada demonstrou que todos os segmentos pesquisados ratificam a importância desse instrumento pedagógico para a Pedagogia da Alternância uma vez que os temas geradores abrangem problemáticas necessárias de serem discutidas. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005 Observou-se que a literatura sobre esse assunto é muito escassa e assistemática, não há registros escritos sobre o início do trabalho com tema gerador na pedagogia da alternância no ES., o que se obteve de informações históricas foi por meio de experiências pessoais de precursores dessa pedagogia no estado.
     Convém lembrar que os temas ligados diretamente ao cotidiano das famílias e comunidades são expostos como os mais importantes e necessários de continuar sendo discutidos, exemplo disso são os temas geradores: “família“ e “saúde”.
     Outro fato que merece ser ressaltado é em relação às contribuições dos temas geradores à vida das famílias , foi constatado que, por meio deles, houve uma melhora no diálogo entre alunos e seus familiares e uma percepção maior dos males trazidos pelos agrotóxicos.
      Este trabalho não tem a pretensão de propor a retirada dos temas geradores existentes nem a inclusão aleatória de temáticas que se pensa ser necessárias, mas é urgente que se dialogue com a realidade e reveja temáticas que a realidade já superou, transformando-as em saberes e investigando novas questões. Vem sugerir que seja feita uma pesquisa participativa no município de Jaguaré para realizar, conscientemente, a alteração de alguns e a confirmação de outros já existentes, caso seja percebido tal necessidade.
     No que se refere ao estudo sobre os instrumentos metodológicos da PA, sugere-se que os monitores das ECORMs estejam em constante formação tendo em vista que os objetivo de aperfeiçoar a práxis dos envolvidos nesse processo educacional.
     Finalizando, pode-se afirmar que o tema desenvolvido é importante pois proporcionou a análise e reflexão dos temas geradores pesquisados nas ECORMs, bem como foi possível verificar sua importância para os envolvidos no processo educativo da PA.

REFERÊNCIAS

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. DA. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MOREIRA, F. Formação e práxis dos professores em escolas comunitárias rurais – por uma pedagogia da alternância . 2000. 325p. Dissertação (Mestrado em Educação)- Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória , 2000.
NICOLESCU, Basarab. Para uma educação transdisciplinar. IN. LINHARES, Célia Frazão; TRINDADE,
Maria Nazaret. (Orgs.). Compartilhando o Mundo com Paulo Freire: São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2003.
III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005.
NOZELLA, P. Uma nova educação para o meio rural. 1977. 204p. Dissertação (Mestrado em Filosofia da Educação)-Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. 1977.
SILVA, Luiza Helena. As representações sociais da relação educativa escola- família no universo das experiências brasileiras de formação em alternância. 2000. 283 p. São Paulo. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, São Paulo, 2000.
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DANIEL, Bruno. O plano de estudo: dois anos de experiência na EFA do Bley. Anchieta – ES: MEPES/ EFA do Bley- São Gabriel da Palha, 1977. 54p. Documento produzido para reflexão da equipe de monitores, São Gabriel da Palha, 1977.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
___. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo

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